Flamengo pode ser tetra. Mas cadê o bom futebol?


O que esperar do Flamengo de Paulo Sousa nas finais do Carioquinha? E nas principais competições no restante da temporada? Impossível responder. Porque o time rubro-negro ainda não dá nem sinal do que virá a ser. Por ora, não passa de um rascunho borrado que os mais otimistas ainda enxergam como prenúncio de lindo quadro que está por vir e os pessimistas anteveem como apocalíptico retrato de uma tragédia anunciada.

Jogo após jogo (tudo bem, foram apenas 12), espera-se uma melhora que não vem. Apesar da alegria com que o treinador comemora estar há três jogos (!!!) sem sofrer gols (no Estadual!), os problemas rubro-negros começam na defesa e vão se espalhando por todos os setores da equipe. O futebol do Flamengo é, neste início de temporada, uma decepção.

A linha de três zagueiros, na maioria das vezes, não sai jogando: usa e abusa, com pouca eficiência, dos passes longos, numa transição apressada, imprecisa e improdutiva. Dá pra chamar isso de jogada ensaiada?

A dupla de volantes (que até agora ele não definiu, embora Thiago Maia e João Gomes sejam as escolhas óbvias) permite que os adversários evoluam na intermediária rubro-negra com incrível facilidade (vide o que fez Nenê nas costas de Arão no terceiro clássico). E pouco contribui na armação das jogadas ofensivas, quase sempre entregues unicamente ao talento de Giorgian de Arrascaeta.

Os alas, por sua vez, são o exemplo mais bem acabado de como o discurso teórico de Sousa passa bem longe da prática. As pretendidas "amplitude e profundidade", até agora, não passam de sonho em noite de verão. De que adianta ter dois jogadores atarraxados às laterais se não há viradas de jogo rápidas para surpreender à defesa rival e ultrapassagens que permitam chegadas à linha de fundo?

Sem isso, o trio de atacantes esbarra, como tem esbarrado de forma sistemática, em qualquer retranca minimamente bem-feita. E ter encontrado tantas dificuldades em três duelos seguidos contra um mesmo adversário, tecnicamente tão mais fraco, cheira a atestado de ineficiência do sistema.

Sob o comando do novo "Mister", o Flamengo teve, na verdade, apenas dois bons momentos: a decisão da Supercopa, contra o Atlético Mineiro, e o primeiro tempo do clássico contra o Botafogo, quando marcou pressão a defesa do adversário e liquidou a parada em 45 minutos (goleada contra o faceiro Bangu de Felipe não conta, né?).

A frouxa pressão pós-perda, aliás, é uma das maiores decepções deste esquema de Paulo Sousa. A marcação rubro-negra é deficiente em todo o campo. De que adianta Gabigol e Pedro fazerem "sombra" na saída de bola dos zagueiros adversários se os volantes não avançam e a linha de zagueiros não vai até o meio do campo, para abafar a segunda bola?

E que diabos têm sido treinado no Ninho do Urubu para que 99,9% dos escanteios e faltas próximas à área adversária sejam batidos em infrutíferos cruzamentos altos sobre a área? Isso chama-se falta de repertório.

Sousa tem um esquema tático posicional rígido e ortodoxo e está convencido de que os jogadores têm que se adaptar a ele e não o contrário. A velha receita de tentar calçar sapato 39 em pés 42. Essa mistura já solou o bolo de Domènec Torrent. E o cheiro que está saindo do cozido preparado pelo novo português do Flamengo não é apetitoso.

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