Gabigol saiu do banco no intervalo da estreia dos titulares do Flamengo em 2022, contra o Boavista. O atacante acabara de chegar com Everton Ribeiro da seleção brasileira.
Depois ficou de fora da partida contra o Madureira, em Conselheiro Galvão, última antes da Supercopa do Brasil em Cuiabá. E foi só. Nos outros seis jogos, atuou por 90 minutos.
O camisa nove é o grande ídolo e um jogador que está na história do clube. Sete gols em decisões, igualando Zico. Três em finais de Libertadores.
Mas, na prática, não é o craque do time. De Arrascaeta começou jogando apenas cinco das oito partidas com os titulares e só não foi substituído nos 5 a 0 sobre o Nova Iguaçu. Nos 2 a 2 com o Resende, saiu do banco no intervalo, para marcar o gol que deu início à reação rubro-negra.
No Estádio Nílton Santos, Gabigol empatou de pênalti, mas errou demais, desperdiçou chances claras e a torcida não perdoou. Xingou e o atacante respondeu gesticulando e, na entrevista pós-jogo, disse que era um "DR" normal.
O torcedor do Flamengo já vaiou Zico e tem direito de protestar contra quem quiser, contanto que não haja violência. E Gabigol, de fato, perde gols demais para o status que tem. Talvez a força mental de não se abater com os erros tenha como efeito colateral uma certa desconcentração, sem chegar inteiro em todas as bolas, já que a mais importante é sempre a próxima.
E a relação fica mais tensa sem grandes títulos recentes e com o jogador sempre em campo. Não seria melhor eventualmente descansar o corpo e a imagem?
Gabigol não gosta, é fominha. Quando iniciou um jogo no banco contra o Fortaleza no Maracanã pelo Brasileiro 2020, marcou o gol da vitória e saiu com cara feia e se recusando a fazer o trabalho dos suplentes no campo. O técnico era Domènec Torrent, mas com Rogério Ceni e Renato Gaúcho não era muito diferente.
O artilheiro se escala sempre. E o impacto de minutos jogados só não é tão grande porque é convocado e/ou suspenso com frequência. Mas na dinâmica de trabalho de Paulo Sousa, não deixa de parecer um privilégio. E injusto, principalmente com Pedro. Ainda que agora eles atuem juntos mais frequentemente.
Gabigol vem mostrando clara evolução, como um atacante mais móvel e participativo. É fundamental em gols e assistências, mas não pode ser um mundo à parte dentro do elenco que também conta com atletas decisivos e históricos. Pode, sim, sentar no banco de vez em quando e ser substituído para dar minutos aos companheiros.
Por que não acontece? Convém perguntar a Paulo Sousa, que vem sendo muito sincero nas entrevistas. Quem sabe ele não tem uma boa explicação?